Fonte: Naira Trindade, Correio Braziliense
Povo quer pedalar sem riscos
Pedalar com segurança pelas ruas estreitas de Vicente Pires é um sonho. Ao encarar as duas rodas, ciclistas da cidade caçula do Distrito Federal são obrigados a dividir o mesmo espaço com um concorrente de peso: o veículo automotor. Em qualquer imprevisto, a bicicleta é sempre a mais prejudicada. Paulo Francisco Teixeira, 30 anos, já foi vítima de acidente. Ao usar o meio de transporte barato e saudável para ir à faculdade, em Taguatinga, ele foi atropelado. “O motorista não deu seta, entrou no retorno e veio em cima de mim. Por sorte não aconteceu nada de grave comigo, mas a bicicleta ficou destruída”, conta.
Paulo é um dos 200 ciclistas que participam, às 8h30 de hoje [11 de julho] , do 1º Passeio Ciclístico de Vicente Pires. Em um percurso de 10km, crianças, adolescentes e adultos de diferentes idades pedalam com o objetivo de reivindicar a construção de ciclovias no local. “Além de ótima para a prática de exercício físico, a bicicleta é um meio de transporte e deve ser usada com esse fim”, defende o estudante de educação física Paulo Teixeira. Todos os dias, ele percorre pelo menos 40km de bicicleta, 20km até a universidade e outros 20km de volta para casa. O carro fica na garagem. “É menos um veículo no trânsito. Nós três temos carros e preferimos a bicicleta. Só aqui nós tiramos três das ruas”, conta ele, apontando para dois amigos ciclistas.
A consciência ambiental de tirar automóveis das ruas e usar o meio saudável como transporte começou cedo na casa de Ítalo Gomes Carneiro, 24. Na garupa da mamãe, Wemilly Lamounier Carneiro, 22, a mascote da turma, Sara Lamounier Gomes, 1 ano e nove meses, vai tentar fazer todo o percurso. “Quando começamos a andar, ela quer dormir”, conta o pai. Mas o sono causado pelo embalo da bicicleta ou qualquer dificuldade encontrada pelo caminho vai contar com a ajuda de um carro de apoio. Uma viatura e duas motos da Polícia Militar também vão colaborar para que os ciclistas pedalem em segurança entre os carros. Segundo o coordenador do evento, Ítalo Gomes, uma viatura do Corpo de Bombeiros vai ficar sob aviso em um ponto de apoio. Também serão distribuídos copos de água para os participantes se hidratarem pelo caminho.
Novo status
A cidade de Vicente Pires nasceu de loteamentos irregulares. Apesar de calçadas largas, as ruas asfaltadas pelos próprios moradores ficaram estreitas. “Na rua, os carros passam em alta velocidade e não respeitam nem ciclistas nem pedestres”, reclama Ítalo Gomes Carneiro. Há menos de dois meses, a região administrativa mais nova do Distrito Federal deixou de ser conhecida como ocupação irregular para se tornar cidade. Com a mudança, passou a ter orçamento próprio e a administração ganhou sinal verde para investir em benfeitorias para o local, onde vivem 60 mil pessoas.
Os ciclistas cobram bicicletários em pontos de ônibus e ciclovias. “Vicente Pires é uma RA (Região Administrativa) e não tem estrutura de lazer ou diversão”, ressalta Ítalo. Mas as melhorias devem demorar a chegar. Segundo administrador da cidade, Alberto Meireles, não há previsão de se construírem ciclovias na área urbana. “É necessário elaborar um projeto dentro do Projeto de Urbanismo de Vicente Pires para a construção das vias. Os trechos que estão previstos são os 19km da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e, possivelmente, a Estrutural”, resume.
“Na segunda-feira eu vou tentar incluir o assunto no Projeto de Urbanismo para que a ideia seja estudada”, promete o administrador Alberto Meireles. Segundo o coordenador-gerente do Pedala DF, Leonardo Firme, o trâmite entre o estudo, a elaboração e orçamento desse projeto e o início das obras demora de dez meses a um ano. “A iniciativa da comunidade é muito legal, porque o transporte individual de carros está falido, mas é preciso estudar a possibilidade, porque as ruas de lá são estreitas”, adverte.