Carta aos familiares do Sr. Fabrício Torres
Queremos primeiramente pedir perdão à família do Sr. Fabrício pela imensa dor causada. Depois da decisão erradíssima de dirigir após beber, o Rafael atropelou o Sr. Fabrício.
Aproveitamos para esclarecer que o Rafael não fugiu do local do acidente e a investigação da polícia não apontou a omissão de socorro.
Já entramos em contato com a família do Sr. Fabrício e estamos disponíveis para dar todo apoio necessário nessa hora trágica.
Finalmente, gostaríamos de fazer um apelo a todos os jovens que acham que essa tragédia só acontece com os outros. Ao dirigir depois de beber, você pode destruir a vida de uma família inocente, destruir a vida da sua família e destruir a própria vida.
Respeitosamente,
Rafael e família.
Essa é a carta divulgada pela família de Rafael de Melo Balaniuk, de 25 anos, que atropelou na última sexta-feira (3) Fabrício Torres da Costa, de 35 anos. Rafael, sob efeito de álcool, num carro. Fabrício, a caminho do trabalho, de bicicleta. Rafael, preso em flagrante, pagou fiança de R$ 15 mil e foi solto. Fabrício, com um coágulo na cabeça, morreu no sábado.
A carta pode ter muitas intenções, das mais nobres às mais calculadas, mas o certo é que traz um apelo final que repete alertas e campanhas de conscientização: se beber, não dirija.
Mas é só isso que essa tragédia nos ensina?
A morte de Fabrício não é apenas fruto de uma “decisão erradíssima” de dirigir após beber. É consequência necessária de uma sociedade carrocêntrica e umbiguista que despreza o convívio e o cuidado mútuo.
Não dirigir depois de beber é uma obviedade. O álcool prejudica os reflexos, reduz a atenção e induz a comportamentos irresponsáveis. Mas ninguém – nem numa bicicleta, nem num carro, muito menos a pé – estaria seguro simplesmente se todo motorista se abstivesse de dirigir depois de beber. O que temos hoje é um modelo de transporte irracional, desumano, excludente e violento.
E tudo isso, tanto quanto o álcool, leva (também) à morte.